Tuesday, December 6, 2011


Dei-te as mãos como se por engano. Tombei sobre ti. E agora cada passada que dás carrega o meu peso também...lembras-te daquele peso morto? Sim, está sempre lá. A martelar-te, a arrancar-te pedaços... Sangue e gritos. Faço dramas nos teus ouvidos e teias nos teus braços, enforco cada sentimento à nascença e nego-o. Se sou feiticeira, porque vens sempre cair neste caldeirão, mesmo quando te corto a rede e digo vai, corre, foge-me, que te hei-de devorar...? Olhas para trás e aí a magia quebra-se, e, num arrastar de ossos cansados, apertas-me junto a ti e dizes que não, não vais a lado nenhum. Que queres destes estilhaços, destas farpas, destes trejeitos de mulher só? Que queres deste corpo falso, que camufla os meus milénios...? Às vezes estou tão velha e cansada que me torno impaciente com a criança que mora dentro de ti. Enervas-me. Como quero por vezes arrancar-te daqui, soltar os meus braços do teu peito, descolar. Passar a ser só eu. Concha. Mas a solidão desdenha-me. Diz que não lhe pertenço! Então a quem? Quem há-de querer esta carcaça? Tu, menino perdido e indefeso? Não, não posso, destruo-te no meu caminho de desgraça. Destruo-nos aos dois. Desfaço-te. Assim deve ser se de ti quero pedaços que ainda não podes dar? 

No comments:

Post a Comment