Saturday, January 16, 2016



Passear pelo sinuoso Père-Lachaise deu-me uma genuína sensação de acalmia.
Nunca temi cemitérios, nem em criança, pois sempre me assustaram mais os vivos, do que os mortos. Antes, estes locais onde repousam vidas ceifadas, 
trazem-me sempre reflexões suaves, apaziguadoras, e desvirtuam-me do egocentrismo...

Neste dia, que amanheceu solarengo, 
os raios de sol iam aquecendo de igual forma os túmulos abandonados e aqueles mais amados, 
e esta atmosfera diáfana aguçou o misticismo do local.
Poderia ter passado o resto do dia a explorar todas estas pedras do adeus,
bem como a conhecer algumas das subtilezas deste gigantesco cemitério onde, 
ao contrário do que possa parecer, os seres humanos, como em todos os locais deste género, 
vencem a batalha contra a morte, 
misturando-se no solo fértil e nascendo novamente nas múltiplas plantas que por lá crescem, rebentando novamente em cada nova folha, 
saboreando o sol, a chuva, o vento em cada nova flor que desabrocha... 
Imortais.

(Podem ver mais fotografias deste belo cemitério nesta publicação do My Fashion Insider).

Friday, November 20, 2015


Não tenho pretensões de ser muito,
a vida despiu-me desses subterfúgios,
fez por calar a minha voz de vaidade,
e perceber que nada valho.

Minto, rindo, dizendo que não me importo,
que não me assusta a mortalidade;
minto, com quantos dentes tenho!,
minto e ignoro a dor que me abala.

Oh, quão perdida me encontro,
quão desolado o eco dos meus passos,
num vaivém numa sala despida,
quão gigante me soa o silêncio,
quão transbordada a minha caixa de memórias...

Dentro de mim não corre esperança,
ou brinca de esconde-esconde...
Barafusto e revolto-me com a minha inércia,
mas aqui me quedo, impotente.
Que fazer?

29/07/2015

Monday, August 3, 2015


Sou imperfeita, desalinhada...
Procurando a minha força sigo estrada...
Se alguém encontrar a minha alma algures,
que lhe ensine o caminho para voltar a casa! 

(foto *Nishe)

Thursday, May 7, 2015





Odeio metades...
provavelmente porque sempre as senti na pele.
Odeio quases...
porque me tornaram a alma velha, decrépita.
Divido-me entre a meninice de tentar mais uma vez 
e o Restelo que me pulsa no coração transplantado 
e grita indignado que devo parar, 
que devo desistir, aceitar a derrota.
Mas eu, teimosa, ignoro todos os avisos,
piso as orelhas até fazer sangue para não escutar,
e continuo a caminhar em frente!

Não posso perder sempre.

Wednesday, April 15, 2015



Demoraste. Onde estiveste? Nem eu mesma sei. Perdida, suponho. Ausente. Contava que me soubesses dizer onde. Nem eu própria sei. Vaguei por ruas sem placas, à moda portuguesa, caí em buracos que outrora eram pequenas imperfeições no alcatrão. Pode-se dizer que me esfolei bem, mas nem doeu. Quando se está anestesiada, qualquer parábola se ouve. Nem teria forças para gritar, se assim o quisesse, era apenas uma boneca insuflável furada, inútil, terminada a festa, cessados os gritos, finda a bebida…
Mas tiveste medo? Só de mim, apenas e exclusivamente de mim. Os outros eram só sombras, sombras que deviam ser coloridas talvez, mas que não passavam de esboços crepitantes no meu subconsciente. Na realidade, fiz a viagem sozinha. Ninguém me acompanhou, ninguém me deu a mão quando senti frio, quando implorei pela Morte, que teimou em não vir. Deve ser preguiçosa, só pode. Aquela ceifa de Inverno deve ser cansativa, demasiados idosos a definhar com pneumonias, não há esperança de vida que os livre desses bicharocos que teimam em encharcar pulmões e rir-se de nós. Não percebo… Se não tinhas dor, porquê partir? Ah, boa pergunta… O estupor não é assim tão interessante quanto isso, ao fim de um dia ou dois, cansa, desfaz os ossos. Nunca fui de caminhar sem rumo, sem objectivo, mas era tudo quanto aquele vazio me podia ofertar. Apenas passos ocos para nenhures. Apenas suor sem frutos. Apenas movimento, em círculos apertados, dentro das pontes da minha mente. Ninguém quer um destino destes… Muito melhor seria uma praia com refrescos e palmeiras simétricas. Descer ao inferno e voltar dele não tem muita saída nas agências de viagens. É preciso alguém de gosto requintado. Ou então, uma alma em cissão, exaurida da vida, como a minha. Porquê? Não sabes? Lá se vai a teoria da omnipresença… É simples, fiz do meu passado o meu futuro. Que resposta mais estranha. Assim é, mas o Nobel da simplicidade nunca me atraiu.
Mas sobreviveste… Sim, mas às vezes sonho com aquela caverna… Caverna, que caverna? Caverna, rua sem fim, inferno, tanto faz, é tudo uma alegoria, na realidade não houve nada, nem caminho, nem sombras, nem frio, só eu esquecida dentro dos despojos da minha mente, a ganhar pó, a apodrecer por dentro, até ficar fora de validade… Não houve nenhuma revelação, não houve um dilúvio para salvar a minha honra, apenas memórias já frias, enfiadas à pressão numa bela gaveta, decorada com viciantes papoilas, para esconder a mais bela parte da minha vida. Ou talvez minta. Pensando melhor, espetei-me, sempre cheia de graciosidade, num espelho. O que mais poderia ser, melhor “cliché” não se arranjava, mas odisseias mentais não se discutem, não mentiria duas vezes. Dentro daquele vidro polido, a devolver-me um olhar de inocência, estava a criatura mais desgraçada em que já pus a vista em cima. Vi-me desolada, desfiando a minha carne lentamente, como se fosse um monte de lã, a expressão derretida, uma boca disforme mastigando uma dor insuportável, que se tornara a minha própria razão de viver. E disse basta. Tão simples quanto isso. Chocalhei-me, refresquei as ideias e os modos, abri a porta daquela caverna, e fugi da corda que me queria abocanhar. E vi o mundo. Bem ali, a piscar-me o olho. Hesitei. Talvez hibernada nos meus lençóis estivesse melhor… Subitamente o meu coração de velha assustou-me. Bateu. Timidamente, como quem se esqueceu. E depois mais e mais… Quando se está vivo, torna-se mais fácil o primeiro passo.
O horizonte rasgou-se à minha frente como um postal, as cores injectaram-me as veias e o presente apertou-me a mão com força, bem-vinda, porque demoraste tanto? Chorei o meu passado e esqueci o meu futuro; não mais me acorrento a um tempo que não o momentâneo. Deixei que as minhas utopias me extorquissem toda a energia, que o meu olhar se fosse debruçando cada vez mais dentro… Jamais! Não sou uma vitrina de antiguidades, sou uma emoção movimentada, livre para correr todos os presentes que entender.

Acabaram-se os círculos fechados, as redomas, os labirintos, chutei tudo isso para um canto, encontrei-me perdida naquela caverna, mesmo a tempo de viver. Pelo sim, pelo não, vou mandá-la demolir.

Janeiro, 2011



Não posso jurar nunca mais curvar-me sobre mim mesma,
quando a solidão, velha amiga, me inundar a casa
ou quando o silêncio me gritar ao coração desalentado...
Não posso prometer que os dias em que cada passada parece sobre chamas se extingam...
Mas posso enxotar as lágrimas mais rápido, retocar a penugem da minha mente alada,
e oferecer a mim mesma esta certeza:
o sofrimento só vive em mim enquanto tiver a porta aberta!

E um dia eu irei fechá-la para sempre...oh se vou!

Saturday, April 11, 2015


Somos meros besouros
que em torno da luz rodopiam
(e logo se precipitam).
Somos almas aladas
que, voando, os limites do céu alcançam
(e logo se despenham).

Pudessem os fados alinhar-se,
tombando...
Pudesse a vida resvalar-se,
endireitando...
Esgotaram-se-me as cartas de mendiga...
Como farei agora para ser amada?


2014-07-18