Sunday, July 21, 2013
Fotografias amachucadas, retalhos secos de canções, sombras de risos, um ror sem fim de ideias descabidas, criadas para outra realidade...
Espelhos sobre espelhos, máscaras, rosas...rosas de cheiro fétido, intoxicante, virulento mas viciante.
Quem não tem amor próprio condena-se indefinidamente a estender as mãos defuntas, a oferecer-se até à exaustão, a prostituir os seus sentimentos, a perder forças e perguntar-se se será suficiente...se finalmente conseguirá ser amado desta vez...para perceber que as gotas que sente cair-lhe na pele não são lágrimas da perfeição prometida, mas resíduo estéril da eterna confusão entre carne e alma, que apazigua por momentos o buraco negro onde antes pulsavam epopeias...
Friday, July 19, 2013
- Estás a chorar?
Espreito o horizonte enlevado, fechando os olhos vagarosamente, sem pressas. Pondero mentir, mas mantenho o silêncio.
- Nunca pensei que chorasses...
Confuso.
- Sempre te vi como uma pessoa forte...quase insensível...impulsiva e emotiva, sim...mas fria quando a vida o exige.
Suspiro.
- Eu choro...a verdade é que choro muito. À noitinha, quando ninguém me vê.
Quando fecho as janelas à minha vida perfeita e a noite emudece todos.
Só aí posso desfolhar as minhas histórias e chorar as minhas derrotas...
- Choras porque perdeste todas aquelas pessoas?
Um meio sorriso. Os jovens têm asas frescas e suaves, mas mentes demasiado aladas.
- Não... As pessoas que por mim passaram são a menor perda...
- Mas então...porque choras tu todas as noites?
- Porque me apercebo que me desperdicei...que queimei brasas estéreis...que sangrei nos corpos errados...
que me ajoelhei perante falsos-deuses e me esqueci de mim...
E eu que me julgava egocêntrica.
Troncos quebradiços onde antes me corria sangue.
Folhas decompostas em fel a fazer as vezes de lustrosas mechas de cabelo em brasa.
Penugem branca espraiada no chão no lugar da saliva que perdi ao vento.
Uma garganta escancarada, sem cordas de violoncelo, esquecida das gargalhadas frescas de outrora.
Mãos ocas e permeáveis que um dia apertaram o mundo e juraram nunca o largar.
Uma determinação polida e penetrante a substituir os reinos de algodão doce.
Garras enegrecidas despedaçando-me a pele, que outrora se deleitaram em costas alheias.
Águas sulfurosas, em detrimento da virginal nascente dos incautos.
Uma tela branca a repousar sobre a pilha de fábulas e fantasias de menina.
Um futuro só e escancarado...quando dantes só conceberia caminhar acompanhada.
Já não tenho medo.
Monday, July 15, 2013
Uma música antiga...uma memória...imediatamente algo em mim queimou.
A noção de que passei a vida a caminhar para longe de mim...para longe do que sou...
agarrada às asas de outras pessoas, que não me levaram ao meu destino...
Tempo perdido, risos gritados ao vento, lágrimas secas e imerecidas...
Tempo, tanto tempo...tempo que caminhei junto a precipícios, quase desejando precipitar-me.
Tempo em que não fui eu. Só sombra. À procura de consolo noutros braços que não os meus, ressequidos.
Mas ele não veio...o consolo ficou-se pela metade, por gemidos loucos de prazer, por quases que só serviram para me despir mais e mais...
Para me tirar às pétalas perfume e à alma mais uma centelha...para nada...
Nada serviu de nada...e eu enganei-me, vez após vez...certa de que cada vez seria diferente da outra...
Por isso agora, fecho os olhos, tapo os ouvidos e aperto o coração, cega, muda e fria.
Tão nova ainda e já tão descrente dos meus sentidos...como um velho marinheiro que já perde o rumo à proa...
Resta-me esperar que as ondas sejam piedosas e arrastem o meu corpo desnudo para uma praia de plenitude...
Por ora levanto a cabeça destas água tumultuosas e preparo-me para o resto da minha vida.
A...MINHA...vida...
Tuesday, May 7, 2013
Quanto tempo dormi?
Uma noite? Um ano? Uma década?
Onde está a minha vida?
Onde estão as papoilas estoiradas que me enfeitavam o peito,
onde estão os dentinhos pequeninos daquele sorriso de menina,
onde estão aquelas mãos que quebravam o papel com tinta,
onde está quem um dia quis mudar o mundo?
Onde estou eu?
O que espera esta alma velha agora?
Este corpo acidificado e trôpego?
Já fui tanto, mas tão pouco.
Mil anos perdidos...mil anos inventados, sonhando psicadelicamente,
sofregamente...tombando na pressa de viver...
não vivendo nada.
Quanto tempo dormi?
A vida toda.
imagem: Laura Makabresku
Uma pilha deles.
Memórias.
Tombadas ao acaso em retalhos de risos e lágrimas.
Histórias.
Novelas.
Cantigas.
Mentira ou verdade?
Quem sabe...
Sou mestra de sentimentos.
Invento-os, construo-os com carinho...
Mas derrubo-os sempre no final,
pois não passam de enredos intrincados.
De falsidades de uma pomba que não aprendeu a voar...
e que ainda não encontrou o que procura...
Monday, April 29, 2013
Adeus. Fui quase feliz nos teus braços... Girei, sonhei, acreditei.
Tentámos com todas as forças, aproveitámos cada segundo sem temor, sem certezas...
Mas a história que contámos não era ainda a nossa derradeira...
Esperam-nos novas aventuras, de vidas finalmente separadas, ou então simplesmente não agrilhoadas pelo rótulo de "amor"...
Guardo-te com carinho no peito, como àquele menino que, um dia, tecera sonhos impossíveis comigo...
Somos crescidos agora e temos de dizer adeus...
Não choro mais, porque não me arrependo de nada...
Sou um pássaro...e os pássaros não descansam até encontrarem o seu ninho...
Voo agora sem pressas, saboreando o vento...ele estará aí algures...
Thursday, March 7, 2013
Não sei...
Não sei dizer se sou eu quem se auto-destrói.
Ou se é a solidão.
Ou se sou eu quando estou só.
Ou se és tu...
Não...não poderias ser tu!
O meu mal vem de dentro...
desta alma descarnada que se quer consumar comendo-me,
estrangulando os meus sonhos com garras de ossos marfinosos...
Não, definitivamente não és tu!
Este sufoco,
esta ânsia de ser feliz não o sendo,
já eu senti,
acompanhou-me no ventre de uma mãe que não me queria,
e fez-se lágrimas no peito de uma menina que só queria encontrar-se...
perdendo-se da vida.
Monday, February 25, 2013
Sou apaixonada por mim mesma, acima de todas as coisas...pelas manias incompreensíveis...pelas maluquices...pela fragilidade de menina-mulher...pelo espírito forte...pelos olhos grandes demais...
Sei hoje que esta fera que por vezes berra...que vive apaixonadamente...que sofre, que tomba, que se arrasta teimosa, não é compreendida por ninguém senão eu! Ninguém é capaz de me amar como eu me amo, porque só eu conheço esta morada...não há bússolas que guiem para o meu casulo, para as minhas mil camadas, para os segredos que não conto a ninguém. Sorrio, rio, rodopio...mas cá dentro moram génios desolados e velhinhas enrugadas, comerciantes de seda e marinheiros de água salgada...tormentas, dias de sombra, pedaços de paraíso...vozes, tantas vozes, tantas vontades...tantos sonhos partilhados, tanta ingenuidade despedaçada, tantas fantasias de fada...E eu sempre a fingir, a falar cada vez mais alto, sempre a desmentir as tristezas...como se ser infeliz fosse o maior veneno do mundo...Não é.
Sunday, February 24, 2013
ph. by Nishe
"Love,
I don't know how many times I've read your last letter. I know the words by heart now; they're embedded in my skin. I keep our souvenirs from the last year nearby. I lay them out often to recall our steps, to etch the memories into my mind. I touch each one and whisper your name, move on to the next. Do you remember the meadow in April, sheathed in morning fog? Do you remember the stepping stones in the river? I keep things from before you even knew who I was, when I could only watch from a distance. These I brush over as well, until I am lost inside you, and certain that our story will never fade from my mind.
The nights are long and the depth of the ache cannot be measured. The north winds have returned, leaving behind little trace of summer. I often wake to a world of delicate frost. You are not here, and the daytime clouds curtain the sky just enough to hush the light—the emptiness is complete.
This morning, as with many mornings, I opened my eyes and for a moment expected to find you next to me. All day now I've been thinking of you. But it's getting darker now, and I'm afraid I won't be able to sleep tonight.
How long has it been since I last saw you, love? A month? A year? A thousand? Return to me soon.
Yours —for all time,
~A.D."
by Jesse Michael Renaud
Quando comecei a ler esta carta, não mais consegui parar. Lembrei-me de nós instantaneamente...
Recordei a separação...a raiva...a incompreensão...a saudade...a difícil tarefa de te esquecer!
Não consegui. Não propriamente. Camuflei-te, escondi-te, guardei-te bem fundo, a ganhar bolor.
Não te queria ver, não queria falar contigo...odiava-te por me abandonares!
Por teres deitado tudo a perder...por seres uma criança imatura que me tinha deixado no momento em que mais te amava!
Ainda hoje, quando olho para ti, vejo aqueles dois meninos que descobriram o amor juntos
e nem se apercebiam de quão raro era aquilo que sentiam...
Admiro a nossa inocência...e as vezes gostava de recuperá-la...
Gostava de ver nos teus olhos a pureza de outrora, antes de te ter magoado e endurecido...
gostava de te olhar sem a mais ínfima desconfiança, sem medo de acordar um dia e saber que já não me queres, uma outra vez...
Estamos diferentes agora. Mais velhos...mais sofridos...mais desconfiados perante um mundo que não dá tréguas!
Queria certezas de que os nossos sonhos de há tantos anos se irão concretizar...mas não mais as posso ter!
Só posso esperar, pacientemente, pelo que a vida nos quererá oferecer!
Voltaste para os meus braços...só quero forças para não te deixar ir embora de novo!
gostava de te olhar sem a mais ínfima desconfiança, sem medo de acordar um dia e saber que já não me queres, uma outra vez...
Estamos diferentes agora. Mais velhos...mais sofridos...mais desconfiados perante um mundo que não dá tréguas!
Queria certezas de que os nossos sonhos de há tantos anos se irão concretizar...mas não mais as posso ter!
Só posso esperar, pacientemente, pelo que a vida nos quererá oferecer!
Voltaste para os meus braços...só quero forças para não te deixar ir embora de novo!
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