Saturday, April 2, 2011

A julieta morreu


Vá, Julieta, chega de rodopios e guinchos. A vida é mesmo assim, dura. Não há mais varandil de musgos. Só escadas espinhosas e chão quebradiço. Não há certezas nem virtudes, só cada passo pesado. Aceita o teu coração de volta, vá. Andaste para aí com ele pulsando, sangrando, bramindo aos quatro ventos, mas ele só a ti pertence. Sim, eu sei que o davas de bom grado. Eu sei. Sei tudo sobre ti. Sei quanto te dói tê-lo assim sozinho, no peito, mas é melhor. Lembras-te da última vez? Veneno e punhais, não resulta bem. Só dor e morte. Não. Agarrada à terra estás melhor. À laia da cautela, ata umas pedras aos pés. Para não voares. É sempre mau quando voas. Sim, sabe bem, pois sabe. Eu também gosto muito. Mas não, Julieta, só tens a tua vida. És só tu. Sim, parece mesmo, eu sei. Mas esquece. Dá-me a mão, volta para a cama. É lindo, aqui. És linda tu. Não chores. Não vale a pena. Morrer não dói nada. Já morreste, lembras-te? Sim, foi por amor, eu sei, é diferente. Mas não há mais disso. Tiveste a tua hora. Há coisas que têm realmente prazo de validade. Não procures em vão. Sossega. Aprecia o silêncio, a acalmia do comum, da imperfeição. Voaste durante demasiado tempo e agora o chão magoa. Mas habituas-te. És uma menina versátil. E meia vida basta. Nem sempre podes ter uma inteira. Sim, Julieta, morreste. E já não há quem morra por ti.

No comments:

Post a Comment