Tenho pena de ti.
Acima de tudo, da raiva, do quase ódio, do nojo que me fazes ter de mim mesma,
das vezes que me convenceste de que eu era um monstro e nunca seria amada,
tenho pena de ti.
Tenho pena de ti porque és infeliz. Tu dizes que és.
Abertamente, sem vergonhas, sem véus.
E não te desenvencilhas disso.
Não te moves, ficas agarrada aos joelhos ou à cabeça, parada, a lamuriar-te.
E odeio-te por isso!
Odeio-te e tenho pena!
Odeio-te porque, na tua prisão, capturaste as minhas asas e não me deixas ir!
Fechas-me a felicidade e nem te apercebes.
Junto de ti, nunca serei aquilo que posso ser.
Sugas-me, derrubas-me e hei-de sempre odiar-te.
Gosto de ti, mas odeio-te.
E tenho pena de ti.
Muita, tanta, que às vezes choro, como se fizesse luto pela menina de permanente
que um dia sonhou e que morreu num campo de malmequeres.
Que desistiu da vida, das lutas e que, ano após ano, fica mais pálida nesse mar de flores...