Tuesday, September 20, 2011


Samantha ganhara o hábito de esperar. Todos os dias podíamos dar com ela à janela, de olhar resoluto, na expectativa de o ver chegar. Ele vinha, por vezes, cantar-lhe ao coração. Outros dias, não. Mas ela sempre aguardava. Vestia-se delicadamente, os cabelos longos gastos de perfume, arrastando recortes de revistas e álbuns velhos nas algibeiras. Não se inquietava, nem quando as corujas se precipitavam para caçar um ratinho tresmalhado, nem quando o apagador de luzes, de trejeitos desajeitados, lhe galava a silhueta em silêncio. Quando deixava de ver, acordava. Encolhia os ombros e recuava, pisando livros, até ao leito. Lá dormia, um sono superficial, como se a cada momento o seu príncipe errante a pudesse vir resgatar. 

Ele foi aparecendo cada vez menos. Até nunca mais voltar. A princípio ela continuou à espera. Talvez ele estivesse perdido. Talvez ferido. Mas, a pouco e pouco, o cabelo foi-lhe caindo, as roupas afrouxaram no seu corpo seco, o olhar tornou-se frágil... Até que, olhando o último candeeiro, decidiu sair. Cheirar o mundo. Cansou-se de esperar. E de atirar a vida pela janela. De agora em diante, apenas andaria em frente.

Sunday, September 11, 2011


Aqui está. O peso de que te tinha falado... A fragilidade, que se deixa resvalar à medida que te amo mais e mais... O medo, a saudade e a necessidade juntando-lhe condimento. No final, tenho este pesado balão de neutrões que arrasto indefinidamente. Que se atira contra ti, clemente, e chora: 

"Isso, agarra-a. Não a deixes ir. Ela nem casa tem, tens de ser tu a guardá-la. Eu sei que às vezes o peso parece insuportável, mesmo para as tuas costas fortes. Mas ela é apenas uma menina perdida. Indica-lhe o caminho para o teu coração. Porque sim, ela às vezes é cega, surda e burra. Não entende o óbvio. Fantasia. Julga-se odiosa. Não confia em nada. E, ainda assim, quer acreditar que há algures alguém que a vai querer mesmo. Para fundir uma vida. Para criar vidas. Na realidade, ela secretamente deseja que essa pessoa sejas tu."

Thursday, September 8, 2011


Era uma armadilha. Desde o início. Eu tentei avisar-te. E agora é tarde. Estas mãos que se perdem nas tuas costas, alheias ao meu pensamento, são na realidade garras. Feitas para te apertar e não te deixar ir. Não vás. És meu. Entreguei-me. E agora quero cada canto poeirento do teu ser. Sim, mesmo aquele anexo a cheirar a mofo, a cair aos bocados. Quero-te todo. Não aceito um não como resposta. Tenho fome. Sacia-a. Criaste este monstrinho. Eu amo-te. Vivo sem ti, mas não o queria ter de fazer... E detesto acordar com medo que vás embora... Porque esta besta que chamo de coração, é caprichosa. E vai-te devorar mesmo que não queiras.

Sunday, September 4, 2011



Ela: Não percebo... Eu não tenho nada para te oferecer. Não sou uma beldade, nem extraordinariamente inteligente. Não sou refinada, nem sei falar com estranhos. Muitas vezes tropeço e digo disparates. Não acredito que te possa acrescentar nada. Porque precisarias de mim?

Ele: A questão é que eu não preciso de ti. Eu quero-te.