Samantha ganhara o hábito de esperar. Todos os dias podíamos dar com ela à janela, de olhar resoluto, na expectativa de o ver chegar. Ele vinha, por vezes, cantar-lhe ao coração. Outros dias, não. Mas ela sempre aguardava. Vestia-se delicadamente, os cabelos longos gastos de perfume, arrastando recortes de revistas e álbuns velhos nas algibeiras. Não se inquietava, nem quando as corujas se precipitavam para caçar um ratinho tresmalhado, nem quando o apagador de luzes, de trejeitos desajeitados, lhe galava a silhueta em silêncio. Quando deixava de ver, acordava. Encolhia os ombros e recuava, pisando livros, até ao leito. Lá dormia, um sono superficial, como se a cada momento o seu príncipe errante a pudesse vir resgatar.
Ele foi aparecendo cada vez menos. Até nunca mais voltar. A princípio ela continuou à espera. Talvez ele estivesse perdido. Talvez ferido. Mas, a pouco e pouco, o cabelo foi-lhe caindo, as roupas afrouxaram no seu corpo seco, o olhar tornou-se frágil... Até que, olhando o último candeeiro, decidiu sair. Cheirar o mundo. Cansou-se de esperar. E de atirar a vida pela janela. De agora em diante, apenas andaria em frente.